quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Capítulo III

Acessem este link por uma questao de estética.
http://br.youtube.com/watch?v=CLQbWAn8a3k.

Querem acabar comigo
Nem eu mesmo sei porque
Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir
Querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar
Me abrace assim, me olhe assim
Não vá ficar longe de mim

Pois enquanto eu tiver você comigo
Sou mais forte e para mim não há perigo
Você está aqui e eu estou também
E com você eu não temo ninguém

Você sabe bem de onde eu venho
E no coração o que eu tenho
Tenho muito amor e é só o que interessa,
Sempre aqui, pois a verdade é essa

Mas querem acabar comigo
Nem eu mesmo sei porque
Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir

Querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar

Mas querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar
Me abrace assim, me olhe assim
Não vá ficar longe de mim

Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir

Querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar

Pérola Real.

Parecia irreal. Apavorante, sublime e surreal o efeito que a fita cassete do Rei que eu carregava enrolada no meu pulso(como foi moda no Leblon dos anos 20) tinha sobre os dois meninos. As curvas se adensavam embalando o possante em seus desenhos neuróticos pela estrada. O teclado soava por todo o carro, dramático e iludido. Roberto afirmava coisas dramático e tão largo da carioca. Eu e minhas oportunidades. Lembro de quando pude comer uma prima. Isso era bastante diferente, eu não estaria machucando nenhuma filha de tio. Mas exterminar alguém... Eu nunca tive que chegar a isso.

Ter que passar por isso agora que temos tão poucos de nós. Acabar com Sr Vasconselos seria acabar com um dos meus. Por isso a música do Rei havia se fixado na minha pele (de tantos anos usando esta fita como pulseira). Em qualquer escolha que estes melequentos possam me dar eu vou estar me traindo. Porque Vasconcelos e STADEN são contra meu quarto dos desejos! Ir contra a construção do mazurka me devastaria mais do que qualquer outra coisa.

As duas crianças estavam estáticas.

Murilo alheio.

Cacete!
Não há mas STADEN.
Somos Vasconselos e eu!

Murilo pàra o carro. Na rua já densa com a noite há alguns clones de "Madame-Satã" que o último prefeito encomendou para que a alma da raça humana em sua devacidão e boemia seja rememorada constantemente. Os satãs já estão um pouco velhos, um é perneta.
As crianças saem do carro e Murilo começa a desinflar, murchando cada vez mais até virar um saco. O rádio cospe a fita. O saco torna a se inflar, aumentando de tamanho e dando formas a uma esbelta babá. Em sua nuca, onde havia escrito murilo agora se vê aretha.

Os quatro atravessam um hall encarpetado que abusava de tapetes em sua decoração, por onde o porteiro se penteava para ir embora. Teria um encontro?

Entramos no elevador.

Quanto mais alto nós ficávamos mais uma batida insistente fazia um sentido especial dentro da minha cabeça. Mais o tom que latejava dentro da minha cabeça se encontrava com algum ruído externo em igual frequência. Aí vinham os órgãos. E não vinham de longe, vinham de perto da minha memória recente. Porque eu havia acabado de ouvir aquela música momentos antes. E... Estava ouvindo de novo. Estava vindo do laboratório/apartamento do Vasconcelos.

Droga.

Todos nós nos olhamos.
Tudo o que eu senti eles compartilharam.
Ele abriu a porta para nós.

Não consegui conter logo no meu primeiro olhar que havia a possibilidade de rasgar aquele pescoço. Usaria um estilete? Usaria cianureto? Se matar um humano tem seu peso, qual será o de matar o penúltimo restante? O preço não me encomodava porque eu não pensava em pagar. Pediria a Deus que botasse na conta de outro. Mas o gosto delícioso mesmo, vai ser o gosto destes tubos de ensaio. Estas cabinas, cadeiras, máquinas de piratear, câmeras, geradores de imagem, e sobretudo o espaço onde eu estalaria o quarto mazurka!

Vasconcelos, você está tão ferrado.
Querem acabar comigo.

A música estava no repeat, Vasconcelos estava estragado e fedido de tanta cachaça.
O menino:

-Esta música. Droga, acabamos de ouvi-la. Isto é mal.
-Estes tipos de coincidência...

Bordaux aí saca sua metralhadora.

-Normalmente isto é coisa de alguma alteração da realidade!Tem alguém nos controlando!

Eu me sirvo de achocolatado na geladeira e cuspo na pia quando percebo que está apodrecido. Para subistituir escolho um cigarro mas lembro que não fumo.

-Acho que vocês estão com síndrome de Truman.
Aretha interessa Vasconcelos que puxa um charuto. Este sim fuma.
Vasconcelos , puto dopado:
-Todos se sentem acordados? Podemos estar no sonho de algum de nós? -coça o peito-

Me canso da neurose geral.
-Escute foi só coincidência.
O bêbado retruca - Dizem que coincidência não existe.
-Quem diz isto é um asno. Certas coisas coincidem e a elas chamamos coincidências.
-Visto deste ponto fico impossibilitado de negar.

Os pequenos não param,não se convencem. E fuxicam. Devem ter razão. Os moleques geralmente têm razão. A sala é enorme e os detalhes científicos não são poucos mas são sutis. A cadeira flutuante está lá e dá suas voltinhas pelo domicílio em busca de uma bunda cansada. Aretha sentou-se no chão.

-Alienígena. Hoje somos só nós dois.
-Vasconcelos, hoje somos irmãos.

O filho da puta tinha um estilete que rasgou minha cara.
Eu caí no chão sem conseguir enxergar com o olho esquerdo que estava ensanquentado.

-Prefiram a mim! Alienígena foi despedido de todas as universidades em que lecionou, por isto ganhou este codinome ridículo, por estar sempre alheio as necessidades e se preocupando com invenções supérfluas.
As cores estavam radiantes vistas por um olho só,mas com a intensidade de vinte deles e dos grandes.
Bourdaux examinava os interruptores e media a velocidade da luz para ver se estava no tempo estipulado pela física, o tempo da realidade. Seu irmão nos olhava "interpretando" muito bem "a platéia" do show. Vasconcelos se joga em cima do meu rosto e dói.Sangro mais e quase vou a inconsciência...ofego.

-Me escolham!

A música continua no repeat.
Mais claro do que nunca. Queriam acabar comigo. Pensei no mazurka. Vi que nenhum dos dois moleques se importava, porque o mais forte venceria. E seria ótimo ver quem era o mais forte entre os dois humanos,os dois únicos humanos.O instinto de sobrevivencia que faiscara em nossos olhos me enlouquecia milimétricamente.

Lembrei-me do verdadeiro porque do artista: Sua arte.
No bolso da perna da minha calça eu posso sentir a chave do quarto mazurka,pontiaguda e eletrizada. Retiro-a e Cravo-a na testa do senhor Vasconcelos.
Seus olhos ficam vesgos, ele tenta respirar. É tudo engraçadíssimo.

matei o outro eu,agora sou só eu.

...Querem acabar comigo?