domingo, 23 de novembro de 2008

CAPíTULO II

RUA NOSSA SENHORA DE COPACABANA
2087 D.C. (15 MINUTOS ATRÁS)

6 meses suspenso... E também a vida pra mim, nesse lugar, já não tem mais graça. Em doismilepouquinho, isso aqui fedia, era sujo, perigoso, e se você estivesse procurando sexo por dinheiro (um vício da época) aqui era o lugar, mas hoje? A quantidade de seres existentes a minha volta, vivendo na cidade do Rio de Janeiro era maior do que a da antiga China. E de humanos podíamos contar 7 vivendo no Brasil. Eu, Márcia, Osório, Paulinho, Natália, o outro Osório e o Sr.Vasconcelos. E por sermos os únicos humanos do país, tivemos obrigatóriamente que servir a STADEN, uma espécie de associação de moradores, só que de seres-humanos. O esquema é todo controlado por um pessoal de fora do qual eu nunca nem ouvi nada, além de que "O esquema é todo controlado por um pessoal... de fora".
O Presidente do Brasil é o Sr.Vasconcelos mas ninguém dá muita trela pra ele, porque ele resmunga o tempo todo e não vai a alguns dos serviços que temos que prestar. Outro dia mesmo, houve uma suspeita de nascimento expontâneo de um humano, e nada tínhamos que fazer além de ir os 7 juntos no ônibus apertado que a STADEN nos dá, mas ele disse que só ia se fosse dirigindo... Porque ele era "O PRESIDENTE DO BRASIL!". Acontece que ele é barbeiro e dirige lento, nós queríamos chegar rápido que era feriado de São Sebastião e passar na estrada seria uma imperdoável falta de tempo. Daí não foi... Ficou em casa e disse que ia dormir, que era o melhor que ele fazia. E foi mesmo, porque quando chegamos não tinha nenhuma criança e a cidade estava completamente abandonada, o que nos pegou desprevenidos, pois na briga com o "Sr, Presidente", saímos as pressas e não passamos no supermercado.

Por falar em supermercado eu precisava achar um casadinho... Nos anos de hoje, como no país inteiro os humanos são minoria, achar comida para nós é praticamente impossível, um casadinho, então? Raridade! Mas tinha uma loja de alimentos que vendia na sessão de importados e era pra lá que eu me encaminhava...

Nunca ninguém se importou em passar para os "alienígenas", o que estava acontecendo com o Mundo, do dia pra noite todos os humanos sumiram, aliás do dia pra noite não. De 15:37 pra 15:38, momento em que eu estava mijando, num lugar meticulosamente calculado pra não ser visto por todas as pessoas num churrasco numa casa no Alto Gávea. Bêbado, cismei que precisava disfarçar que ia mijar, pra que a menininha que eu estava investindo não visse, por quê? Não sei, papo de doido. Fui me embrenhando até encontrar um lugar onde realmente me sentisse escondido. Achei e me aliviei assobiando "Delightful Evening", um psychoro de protesto que era sucesso em qualquer rodinha de samba do Planetário a Lapa, em 2034. Essa foi minha última atitude nos meus felizes 26 anos de idade. Saí do que eu agora poderia considerar pra sempre como esconderijo do mijo, o que na minha cabeça que vai longe... rendeu um sambinha que é assim:

Tá no samba, deu vontade do mijo
Larga a cerveja, disfarça a gatinha
E encontra um esconderijo

Confesso que não é bom, mas pelo menos existe e fui eu que fiz, não que isso importasse naquele momento, pois por mais que eu quisesse tomar o churrasco pra mim e cantar minha mais nova composição, ninguém me ouviria, pois ao pisar fora do caminho de plantas, toda a minha façanha em esconder-me tornou-se desnecessária.

Todas as pessoas do mundo tinham desaparecido. Incluindo a menininha que eu... enfim.

Todas não, porque como já disse, aqui no Brasil ficaram 9 assim como nos Estados Unidos, Na Inglaterra 1, 2 argentinos insuportáveis, 1 na Itália e por mais que pareça piada, o Osama Bin Laden. O fato é que só sobraram no mundo as pessoas que naquela troca de 15:37 pra 15:38, estavam bem escondidos em algum lugar, de forma a enganar as imensas máquinas que sugaram geral pra sempre.

Tudo continuou no mesmo lugar, só que sem ninguém. O cheiro da carninha na churrasqueira foi meu companheiro fraternal na primeira vez em que realmente escutei o silêncio. E ali do Alto Gávea, o silêncio era Tom Jobim me dizendo que "Longa é a dor do pecador, querida", e por mais que o piano fosse bonito de ser ouvido, a história do "querida" eu ainda não engoli.

O máximo que consegui andar foi até a varanda...

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